Acidente na montagem de cabo de fibra óptica
DESCRIÇÃO DO ACIDENTE
O trabalhador
JCAS, juntamente com seu companheiro de equipe JNF iniciaram os trabalhos com
finalidade de substituir o cabo de pára-raios de fibra óptica de 12,4 mm no
trecho entre as estruturas nos 260 e 262.
Pela programação
de trabalho pré-definida da equipe, os trabalhos iniciaram com a escalada da
estrutura nº 262 pelos dois trabalhadores, ficando os demais da equipe no solo.
Nesta
atividade é comum entre os trabalhadores a alternância na saída nos cabos, e
foi decidido quem sairia no cabo para realizar a atividade era JCAS e o outro
colega permaneceria na torre para auxiliá-lo na ancoragem do guincho manual e
demais atividades.
Às 11 horas
e 15 minutos os profissionais iniciaram especificamente a realização da
atividade de substituição do cabo.
Foto –
Início das atividades.
Inicia-se a
atividade instalando em uma das extremidades do cabo de aço tirante o esticador
de aperto radial de 12,4 mm (conhecido como morcete) e na outra extremidade
instala-se o guincho manual de corrente com capacidade para 3 t, o esticador é
fixado no cabo a ser substituído a uma distância de aproximadamente 60 m da
estrutura e o guincho é ancorado na mísula (suporte) do pára-raio. Outro
trabalhador que estava na estrutura, tensionou o guincho e verificou os
procedimentos de segurança. Após esse procedimento o encarregado da equipe
ordenou JCAS cortar o cabo de fibra óptica, este posicionado a 1 m a frente do
esticador sentado no carro guia e secciona o cabo a mais ou menos 80 cm a frente
do esticador.
Foto –
Instalação do esticador e preparação para o corte do cabo de fibra óptica.
Após o corte
do cabo os trabalhos transcorriam normalmente, porém ao iniciar o procedimento
de retorno a estrutura JCAS percebeu que o talabarte de seu cinto de segurança
ficou preso atrás do esticador, e ao retornar ao cabo para desprender o
talabarte, neste momento surgiu um problema: o cabo de fibra óptica que estava
na posição final de catenária havia armazenado uma grande quantidade de energia
mecânica de torção durante os processos de lançamento e fixação nas estruturas.
Com o contato do corpo do trabalhador (tórax ) com ponta do cabo, este liberou
toda a energia de torção que estava acumulada, vindo esta ponta girar sobre seu
próprio eixo com grande velocidade enroscando-se no vestuário, na alça da bolsa
de couro e também na alça de seu cinto de segurança, iniciando um processo de
sufocamento.
Imediatamente
JCAS pediu ajuda ao colega que se encontrava na estrutura aguardando seu
retorno, este rapidamente se deslocou percorrendo 60 m de cabo que os
separavam. Chegando ao local, o acidentado pediu ao colega que pegasse o
canivete que se encontrava na bolsa de couro para cortar o vestuário que o
prendia.
Foto A – O
trabalhador tentando se desprender do cabo.
Foto B – O
colega que estava na estrutura auxiliando no resgate do acidentado
Foto C
- Outro colega que estava no solo
auxiliando no resgate do acidentado.
DIFICULDADE
DE RESGATE DEVIDO A ALTURA
O
encarregado da equipe que se encontrava no solo percebendo a gravidade da
situação ordenou que outro trabalhador CA imediatamente escalasse a estrutura
para ajudá-los. Chegando ao local,
devido às circunstâncias, (cabo a 35 m do solo) com ausência de apoio
para os pés, cansaço físico, o resgate tornou-se extremamente difícil, não
sendo possível libertá-lo. Foi constatado que o trabalhador não estava mais
reagindo e se encontrava em óbito. A tentativa de resgate durou 12 min.
Só foi
possível fazer o resgate do acidentado minutos depois, utilizando outros
procedimentos, com os grampos de fixação do cabo de fibra óptica teve de ser
retirado das estruturas para o rebaixamento do cabo até o solo, quando foi
possível desprendê-lo do cabo e assim entender com maiores detalhes o que
realmente aconteceu.
Foto –
Trabalhador equipado com EPI´s para desenvolver a função de montador de linha
de transmissão II.
1. Todos os
exames indicados no PCMSO – Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional
para a função de montador de linha de transmissão II emitido em 13 de Abril de
2.009, concluíram que o trabalhador estava apto para desenvolver essa função;
2. O
profissional participou da APT – Análise de Prevenção de Tarefa elaborada no
dia do acidente;
3. A ficha
de EPI – Equipamentos de Proteção Individual consta a retirada de todos os
EPI´s necessários para o desempenho da função;
4. O
profissional acidentado estava utilizando todos os EPI´s necessários para o
desempenho da função;
5. Há
registro de medição de pressão arterial do trabalhador;
6. Há
evidência de treinamento de trabalho em altura do acidentado com carga horária
de 2 horas, emitido no dia 20 de Janeiro de 2.010;
7. Evidência
de integração admissional com carga horária de 6 horas no dia 04 de Maio de
2.009;
8. EPI´s
utilizados pelos profissionais da função de montador de linha de transmissão
II;
■Capacete: CA 13226;
■Botina: CA 14721;
Cinto de
segurança: CA 16592 – NR 18, item 18.23.3 diz que o cinto de segurança tipo
pára-quedista deve ser utilizado em atividades com mais de 2,00m de do solo,
nas quais haja risco de queda do trabalhador;
■Luva de vaqueta: CA 19856;
■Óculos de proteção: CA 6136;
■Talabarte em Y 110 mm: CA 11653.
FERRAMENTAS
NECESSÁRIAS PARA REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE
■Carro guia para 1 cabo (bicicleta)
■Tesoura hidráulica para corte de
cabos
■Guincho manual de corrente com
capacidade de 3 t
■Esticador de aperto radial de 12,4 mm
■Cabo de aço polido AF (alma de fibra)
de ½” x 70m com laços nas extremidades
■Corda de serviço
■Carretilha de serviço
■Chaves diversas
AVALIAÇÃO
PRELIMINAR
O
profissional estava desenvolvendo trabalhos em altura na função de montador de
linha de transmissão II, para a qual estava apto, capacitado e treinado
conforme mostram os registros de treinamentos.
Todos os
procedimentos de segurança como Integração Admissional, Treinamentos de
Seguranças, DDS – Diálogo Diário de SEGURANÇA ,Análise de Preliminar de Risco e
Permissão de Trabalho foram realizados.
IT –
Instruções de Trabalho pertinentes foi ministrado conforme plano de segurança
implantado e aprovado no empreendimento pela Segurança do Trabalho.
1-carro guia
2-trabalhador
Depois de
descer o OPGW com a corda de serviço, o trabalhador volta até o esticador de
aperto radial para soltar o talabarte do cinto de segurança que ficou preso no
esticador. No esticador ficou a ponta do cabo cortado que enroscou no
vestuário, torcendo-o junto com o cinto de segurança e a alça de sua bolsa.
3-esticador
4-talabarte
5-corda de
serviço
CONCLUSÃO DO
ACIDENTE
Conclui-se
que a ponta do cabo que veio prender-se no vestuário, na alça da bolsa de couro
e na alça do cinto de segurança do acidentado deveu-se aparentemente pela
dissipação de energia adquirida quando do lançamento e fixação do cabo nas
estruturas, esta energia deveria dissipar no momento do corte do cabo, o que
não ocorreu. É inédito esse tipo de acidente, cujo evento ainda não havia sido
registrado neste tipo de atividade em construção de linha de transmissão.
RECOMENDAÇÕES
Diante do
relatório apresentado, recomenda-se:
1. Todo
profissional montador de linha de transmissão quando for desenvolver a
atividade de lançamento, substituição e ancoragem de cabos de qualquer espécie
deverá considerar seriamente essa energia como sendo de alto risco, combatendo-a
com a utilização de grampos de fixação na ponta do cabo seccionado a fim de
inutilizar essa energia;
2. Além dos
grampos de fixação na ponta do cabo, colocar contrapesos no esticador, a fim de
evitar a dissipação da energia de torção, na hora do corte;
3. O
profissional montador, na hora do corte do cabo, deverá permanecer sentado no
carro guia (bicicleta), até o momento de retornar a torre;
4. Redobrar
as atenções sempre que se aproximar das extremidades dos cabos aéreos,
principalmente após serem seccionados;
5. Todo
talabarte Y deverá permanecer próximo ao profissional na execução da atividade
e jamais do lado oposto do esticador (morcete). De forma que não venha ocorrer
o risco de encostar no cabo;
6. Realizar
as investigações e estudos necessários para a identificação das causas do
acidente e tratá-las adequadamente;
7. Realizar
treinamento de resgate em altura a todos os profissionais montadores de LT –
Linha de Transmissão.
Comentário:
O relatório
da empresa foi muito bem feito.
Num cabo
tensionado há duas formas de energia:
O cabo
transporta energia nas formas de energia cinética e de energia potencial
elástica.
Quando o
trabalhador tocou na ponta do cabo, houve dissipação de energia e transferiu
para corpo do trabalhador, cujo vestuário se enroscou no cabo e foi torcido
Em
lançamento de cabos geralmente utiliza estabilizador ou dispositivo anti-torção
para evitar acúmulo de torção de cabos e energia. No relatório não menciona
esse dispositivo.
A fixação do
talabarte conforme foto ficou atrás dele. É recomendável a fixação do talabarte
na frente, para que o trabalhador possa deslocar com maior segurança, sempre
visualizando-o e evitando que ele possa ficar preso ou enganchado em alguma
saliência
Como
recomendação do próprio relatório, realizar treinamento de resgate em altura a
todos os trabalhadores montadores de LT – Linha de Transmissão.
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